quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Essa é "Ctrl c Ctrl v" total... mas vale a pena!



Por Silvana Arantes (em Brasília)

Na história recente do cinema brasileiro, Pernambuco entra no capítulo das boas surpresas, inauguradas com "Baile Perfumado", de Paulo Caldas e Lírio Ferreira. Depois vieram Cláudio Assis ("Amarelo Manga", "Baixio das Bestas") e Marcelo Gomes ("Cinema, Aspirinas e Urubus"). Agora, Daniel Bandeira segue a "tradição", com "Amigos de Risco", seu primeiro longa, que abriu ontem a competição do 40o. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Realizado com R$ 200 mil, orçamento modesto para os padrões nacionais, "Amigos de Risco" é mais do que o cartão-de-visita de Bandeira; é seu estatuto pessoal de cinema. No debate de hoje de manhã, ele evitou a ladainha da dificuldade de filmar no Brasil. "Não nos interessa alardear que este filme foi feito na raça", declarou, ao assumir como próprio à linguagem do filme a precariedade de suas condições de filmagem: "Neste filme existe um diálogo entre técnica e conteúdo. Nenhum dos erros que existem nele parte do relaxamento".

O diretor disse que, se tivesse mais dinheiro, melhoraria alguns aspectos, como o áudio do longa, mas afirmou que não buscaria um "padrão de qualidade" hoje perseguido pela maioria das produções no Brasil, cuja idéia de perfeição técnica o incomoda. Em outras palavras, Bandeira fez a defesa de um cinema precário, imperfeito ou subdesenvolvido, para usar o termo definidor da cinematografia nacional segundo Paulo Emílio Salles Gomes, o criador do Festival de Brasília, nesta edição (merecidamente) lembrado a cada filme e a cada debate.

"Existe uma urgência [de filmar] em Recife. Com 'Amigos de Risco', fomos até aonde foi possível chegar", disse Bandeira. O longa foi filmado digitalmente. Ao ser ampliado para o formato 35mm e encher a tela grande do Cine Brasília, resultou numa imagem que incomodou muita gente, conforme ficou claro no debate desta quinta.

Mas a equipe do filme tem orgulho do resultado que alcançou. O fotógrafo Pedro Sotero explicou aos que reclamaram de "falta de foco" que não é exatamente esse o problema de acabamento que eles identificaram. "Este filme foi captado com câmera mini-DV. É um formato semiprofissional. O que parece fora de foco é falta de definição, porque a mini-DV não segura a ampliação [para 35mm]. Na verdade, a câmera surpreendeu. A gente esperava menos dela."



Quanto à trama, a discussão que "Amigos de Risco" propõe é sobre os limites da amizade. Ou, nas palavras de Bandeira, uma investigação sobre "até que ponto os laços de amizade agüentam a alteridade e a pressão das condições sociais".

Trocando em miúdos, Joca (Irandhir Santos, o Quaderna da minissérie "A Pedra do Reino", de Luiz Fernando Carvalho) é o amigo encrenqueiro de Benito (Rodrigo Riszla) e Nelson (Paulo Dias), que volta para Recife depois de dois anos "foragido" no Rio de Janeiro. Ela havia deixado a cidade depois de dar diversos golpes na praça e retorna com a intenção de retomar os "negócios", usando os amigos como "laranjas".

O histórico do afeto e das desavenças entre os três surge de suas conversas, de bar em bar, na noite do reencontro. Até que Joca sofre uma overdose, e os amigos têm que, literalmente, carregá-lo nas costas, Recife acima e abaixo. Assim, a amizade _e a vida do imperfeitíssimo Joca_ viram um peso nas mãos de Benito e Nelson, que decidem, até o amanhecer, se o suportam ou o descartam.

Fonte Ilustrada por igor de lyra